quarta-feira, 3 de novembro de 2010

COMO LIDAMOS CONOSCO

O livre arbítrio e a providência divina

por Roberto Streppel

A Liberdade Humana
Muito se fala e se escreve sobre a liberdade humana em se escolher entre o Bem e o Mal. Crê-se que o ser humano possui livre-arbítrio e pode decidir livremente sobre sua vida e suas ações, e, mesmo, decidir-se sobre Deus. Contudo, creio ser necessário, antes de tudo, definir o que seja liberdade.
Livre é aquele que é autônomo, que pode tomar decisões por vontade própria. Liberdade absoluta, então, é poder tomar qualquer decisão e qualquer atitude em completa autonomia, sem qualquer interferência.

A Vontade
Ora, todo ato de vontade tem uma causa, e esta causa também terá sua causa, e isto ao infinito. Desta maneira, não se pode afirmar que o ser humano é completamente livre, mas todas as suas atitudes são causadas por alguma coisa, talvez inconsciente. Desta maneira, não se possui livre arbítrio no sentido de que possamos tomar decisões autônomas, aparentemente baseados na nossa pretensa liberdade de escolhas. Não podemos escolher alguma coisa, simplesmente porque não há o que escolher. Ou se pratica o Bem, ou o Mal. E, qualquer um que se vá escolher, faz-se esta escolha baseados em fatos anteriores, nem tão subjetivos, mas sim, encadeados. Isto não é escolha livre, pois é determinada por algo, torna-se uma causa necessária, pois cada vez que escolhemos algo, o fazemos para nosso próprio bem, por que vemos vantagens nesta escolha.
Pressupomos que a escolha do Bem é a que trás maiores vantagens, e por isto nos esforçamos para praticá-lo, como já o filósofo Platão ensinava a 25 séculos atrás, no seu livro “ A República”:
“ No limite do cognoscível é que se avista, a custo, a idéia do Bem, e, uma vez avistada, compreende-se que ela é para todos a causa de quanto há de justo e belo. Que, no mundo visível, foi ela que criou a luz, da qual é senhora; e que, no mundo inteligível, é ela a senhora da verdade e da inteligência, e que é preciso vê-la para se ser sensato na vida particular e pública.”

A Providência Divina
Por outro lado, se se confia na Providência Divina, então, também se abre mão desta pretensa escolha, pois então se espera que a Providência Divina vá tomar alguma atitude em nossa vida.
Ora, se somos livres, como a Providência pode tomar conta de nós? E, se ela toma conta de nós, e em nossas atitudes interfere, como podemos ser livres? Por outro lado, como a Providência irá escolher o momento de interferir e cuidar de alguém? Quais os critérios? Pois, ao tomar conta de nós, ela interfere em nossa liberdade, limitando-a. Liberdade limitada não é liberdade, mas arremedo da mesma.
No livro de Gênesis nós lemos que Deus, após ter terminado sua obra, descansou, isto é, parou de atuar. Segue-se daí que a criação, uma vez completa segue seu curso em Deus, mas sem atuação dele. Ou seja, uma criação completa e adulta agora segue seu curso de maneira autônoma.
Deus confia que sua obra está completa e por isto, descansa, isto é, não interfere mais na sua obra, deixa-a seguir seu curso, como um pai que, tendo criado e educado seu filho, agora que ele é adulto, libera-o para viver sua vida adulta.

Nossas atitudes
Quando somos adultos, não deixamos de amar e honrar nossos pais, mas, mesmo assim, tomamos nossas próprias decisões, decisões estas baseadas em nossa experiência anterior e naquilo que absorvemos dos ensinamentos que recebemos. Nossos pais, ao considerarem sua obra completa, não deixam de nos amar, mas mesmo assim, abstêm-se de interferir em nossa vida. Assim também é em nossa relação com Deus. Seguimos nossa vida vivendo o melhor que podemos, contando com nossa coragem e nossa determinação, que é falha e é relativa, pois sempre podemos buscar uma causa para explicar nossas atitudes.
Então, nossas atitudes não são livres, pois são tomadas com base em determinados critérios, assim, como também Deus não está tomando conta de nós, pois está em descanso, pois confia naquilo que fez. Assim, apuramos nossas atitudes por nossas experiências em nossa vida e em nossas lembranças que vem de nosso inconsciente e que herdamos de nossos antepassados.
Em outras palavras, somos, cada qual, um sistema completo, preparado para a vida na terra, com todas as vicissitudes. Contudo, não somos livres, pois tomamos nossas atitudes e baseamos nossas escolhas baseados em experiências e causas. Ou, seja, toda e qualquer vontade nossa tem um porque.
Por isto, também não contamos com a Providência Divina, pois Deus descansa por considerar sua obra completa. Somos responsáveis por nossos atos diante de nós mesmos, que somos, afinal, a quem devemos prestar contas. Devemos aprender a ter a coragem de asssumir a responsabilidade por nossos atos, baseados em nossa autonomia. Somente desta forma seremos adultos responsáveis e felizes.

Roberto Streppel é Teólogo luterano, Filósofo, especialista em Eneagrama, terapeuta neurolingusta. Atende com hora marcada: 2480-9652. - E-mail: pastorroberto@rocketmail.com

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